Pesquisa aponta falta de educação como maior problema do trânsito
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“O que dificulta o trânsito é a falta de educação.” A afirmação reflete a opinião de 52% dos gaúchos, segundo uma pesquisa promovida pelo Detran/RS, em cumprimento à Resolução 314, do Conselho Nacional de Trânsito, que determina a realização de pesquisas para embasamento das campanhas de trânsito. A Pesquisa de Análise do Trânsito 2010 ouviu 2.068 pessoas, entre especialistas, motoristas profissionais e cidadãos (condutores e não condutores) em 20 cidades do Estado. Foram utilizadas técnicas de entrevistas em profundidade, grupos focais e questionários aplicados em pontos de fluxo de cada uma das cidades para detectar a percepção da população gaúcha sobre o trânsito.
As conclusões confirmaram que a mentalidade do porto-alegrense, detectada em pesquisa recente da EPTC, se estende aos demais gaúchos. A máxima de Sartre “o inferno são os outros” serve para explicar os transtornos do trânsito no Estado. A grande maioria dos entrevistados afirma não cometer imprudências (69,1%), não ter se envolvido em acidente (97,6%) e nem ter sido multado nos últimos 12 meses (90,6%). No entanto, ao avaliar o trânsito da sua cidade, considera os motoristas imprudentes (88%), não se sente seguro dirigindo (44,6%) e sua preocupação mais presente relacionada ao trânsito é a imprudência dos motoristas (75,9%) e a falta de consciência do condutor (71,4%).
A pesquisa também confirmou conclusões de pesquisa da UFRGS sobre a Lei Seca com os freqüentadores de bares de Porto Alegre. O gaúcho sabe. Mas não faz. Quando consultados sobre a nota que dariam para o conhecimento das leis de trânsito, em uma escala de zero a 10, a média ficou em 8,4 para si mesmo e 6,2 para os outros motoristas da sua cidade. Já em comportamento, curiosamente, em uma auto-avaliação o gaúcho dá a si mesmo a mesma nota média de 5,5 que dá aos “maus motoristas” de sua cidade.
Para a psicóloga Bárbara Dresch, pesquisadora da Focal, empresa que realizou a pesquisa, o gaúcho sabe que não está se comportando da forma correta, mas sempre tem uma justificativa para as pequenas infrações do dia-a-dia. “Uma característica cultural da vida moderna é o individualismo. Na pesquisa, constatamos isso bem claramente. Os entrevistados enxergam o trânsito de forma individual, pensando no seu tráfego, no seu percurso. Falta a consciência de que as minhas atitudes impactam e prejudicam o coletivo.”
Um dado preocupante delineado pela pesquisa é que o uso do celular ao volante tornou-se uma infração socialmente aceita. Das poucas pessoas que admitem cometer imprudência, o uso do celular é admitido por um percentual alto da amostra (22,5%), se comparado às outras infrações citadas, por exemplo, dirigir sem cinto (7,2%), permitir carona sem cinto (5,6%), passar em sinal vermelho (4,5%), etc. Na faixa dos 18 a 24 anos, o índice de uso de celular no trânsito sobe para 30,6%. Quando foi perguntado sobre as imprudências mais cometidas pelos outros motoristas, 73,4% citou o uso do celular como a mais freqüente em sua cidade.
As cidades em que os motoristas se sentem menos seguros são Caxias do Sul, Pelotas e Passo Fundo, nesta última 74,3% dos entrevistados se sentem inseguros no trânsito. As reclamações comuns nessas três cidades, detectadas na etapa qualitativa, são a falta de engenharia de trânsito, a falta de fiscalização e o despreparo dos motoristas.
O nível de confiança da pesquisa, para o total de 2.068 pessoas pesquisadas, é de 95%, e a margem de erro fica em 2,2% para mais ou para menos. Para o Presidente do Detran/RS, Sérgio Filomena, o resultado foi revelador. “Sabendo como pensam nossos motoristas e pedestres, temos condições de desenvolver campanhas e ações mais efetivas. Através desse estudo detectamos, por exemplo, que precisamos trabalhar para que cada um assuma a sua parte da responsabilidade pela paz no trânsito.”